Quais os impactos da escravidão moderna nas questões raciais contemporânea explique

O evento teve a participação do escritor e jornalista Laurentino Gomes e foi mediado pelo presidente da SBPC e docente da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Ildeu de Castro Moreira. Autor dos best-sellers “1808”, “1822” e “1889”, que abordam o período monarquista do Brasil, Gomes agora publica a trilogia “Escravidão”, sobre a época escravagista do país.

A herança do racismo no Brasil foi gerada por mais de três séculos de escravidão. Entre 1501 e 1870, mais de 12,5 milhões de africanos foram vendidos como escravos para o continente americano. Desses, um em cada quatro foram enviados para o Brasil (cerca de 4,8 milhões até a segunda metade do século 19).

“Tudo o que nós fomos no passado, o que nós somos hoje e o que nós seremos no futuro só pode ser explicado pela escravidão. Considero esse o assunto mais definidor da história do Brasil”, afirma Gomes.

Grande população, baixa representação

Apesar de ser o país com a maior população negra fora da África, de acordo com o Ministério das Relações Exteriores, essa população está sub-representada em todos os setores da vida social no Brasil. São 56,10% pessoas que se autodeclaram negras no Brasil, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), equivalente a 19,2 milhões de indivíduos. No entanto, no mercado de trabalho, pretos e pardos ocupam apenas 29,9% dos cargos de gerência segundo a pesquisa “Desigualdades Sociais por Cor ou Raça no Brasil” do IBGE.

A baixa representatividade de negros em cargos de decisão também é visível na política: de acordo com levantamento do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), em 17 dos 24 partidos com representação no Congresso, a participação de quem se autodeclara negro nas cúpulas partidárias vai de zero a 41%. O cenário não muda na academia: um estudo realizado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) mostrou que apenas 18% dos negros entre 18 e 24 anos estavam cursando ou já haviam concluído o ensino superior.

“Eu diria que o principal traço do racismo brasileiro é silencioso e cúmplice. Existe hoje uma grande maioria dos brasileiros brancos que jamais se assumiria como racista, jamais teria coragem de pronunciar uma injúria racial, mas aceita como se fosse um fato natural da vida um Brasil desigual, em que pobreza e falta de oportunidade é sinônimo de negritude”, alerta Gomes.

Violência

Por outro lado, os casos de homicídio de pessoas negras aumentaram 11,5% em uma década, de acordo com o Atlas da Violência 2020. O relatório mostra que os negros representaram 75,7% das vítimas de todos os homicídios em 2018. Além disso, 75,2% dos pretos e pardos encontram-se entre os 10% com menores rendimentos per capita no País, segundo a pesquisa “Desigualdades Sociais por Cor ou Raça no Brasil” do IBGE.

“Discutir o racismo e a herança da escravidão não é uma mera ‘firula intelectual’”, afirma Gomes. “É importante que as pessoas entendam que esse assunto obrigatoriamente terá que fazer parte da agenda de todo partido político que tiver projetos para enfrentar a desigualdade social, e portando promover essa segunda abolição.”

O trabalho escravo foi banido em quase todos os países, mas ainda existem muitas pessoas vivendo sob essa condição ao redor do mundo.

Entre as mulheres, as formas mais comuns dessa violência são forçá-las a se casar, a fazer serviços domésticos ou a se prostituir. No caso dos homens, destaca-se o serviço em barcos da indústria da pesca.

A chamada escravidão moderna atinge mais de 45,8 milhões de pessoas no mundo, segundo a edição deste ano do Índice Global de Escravidão, publicado pela Fundação Walk Free, da Austrália. A maioria (quase 35%) está na Ásia.

Na América Latina, são 2,16 milhões de trabalhadores, 161,1 mil deles no Brasil - em 2014, eram 155,3 mil. Segundo o relatório, a incidência desse crime é maior nas áreas rurais no país, principalmente em regiões de cerrado e na Amazônia.

A ONG destaca o pioneirismo do governo brasileiro na divulgação da "Lista Suja do Trabalho Escravo", que aponta empresas multadas pela Justiça. A publicação da lista foi suspensa pelo Supremo Tribunal Federal em dezembro de 2014, mas o órgão acabou liberando o material na semana passada.

A Walk Free define como escravidão "uma situação de exploração da qual não se consegue sair porque está sob ameaça, violência, coerção ou abuso de poder". Confira cinco exemplos levantados pela organização:

1) Indústria da pesca e de frutos do mar

Grupos de defesa dos direitos humanos afirmam que milhares de pessoas são forçadas a trabalhar em barcos de pesca, onde podem permanecer durante anos sem nem sequer poder ver a costa.

As vítimas afirmam que, caso sejam flagradas tentando escapar, podem ser mortas ou lançadas ao mar.

A Tailândia, terceiro maior exportador de frutos do mar do mundo, foi acusada de lotar seus barcos com birmaneses e cambojanos que foram obrigados a trabalhar como escravos.

Legenda da foto,

Vítimas de trabalho forçado são ameaçadas até de morte

Intermediários costumam mentir prometendo empregos em fábricas, mas no fim levam as pessoas para barcos de pesca, segundo vítimas.

Após escapar dos traficantes, um birmanês contou que foi forçado a entrar em um pequeno barco em mar aberto, onde teve de pescar por 20 horas diárias sem receber nada por isso.

"Eles diziam que qualquer um que tentasse escapar teria as pernas cortadas, as mãos, ou até seria morto", disse à BBC.

2) 'Fábricas de maconha' e salões de unha

Os números sugerem a existência de 10 mil a 13 mil vítimas de escravidão no Reino Unido, vindas de países como Albânia, Nigéria, Vietnã e Romênia.

Acredita-se que cerca de 3 mil crianças vietnamitas estejam trabalhando em "fábricas de maconha" e salões de unha, onde ouvem que "suas famílias lamentarão muito" se escaparem.

Uma das vítimas tinha 16 anos quando chegou ao país com a expectativa de ganhar dinheiro e mandar para a família. Mas, em vez disso, o rapaz foi forçado a trabalhar em uma "fábrica" de maconha, casas onde são cultivadas enormes quantidades da planta.

Legenda da foto,

Muitos acabam nesses condições por causa de dívidas

"Lembro que perguntei ao homem que me levou ali se eu poderia ir embora, pois não gostava de ficar naquele lugar. Ele ameaçou me bater ou me matar de fome", disse.

Quando a polícia invadiu a casa, o jovem foi preso e foi acusado de crimes vinculados a drogas. Mas depois recebeu ajuda da organização para proteção à infância NSPCC.

A Organização Internacional do Trabalho calcula que existam cerca de 4,5 milhões de vítimas de exploração sexual no mundo.

Shandra Woworuntu, ativista contra o tráfico humano, foi forçada a se prostituir nos Estados Unidos em 2001. Ela saiu da Indonésia com a promessa de conseguir um trabalho na rede hoteleira, mas foi entregue a traficantes armados pelos intermediários que a receberam no aeroporto.

Legenda da foto,

Shandra e outras três vítimas foram forçadas a posar para essa foto perto de um bordel

"Ouvi que tinha uma dívida de US$ 30 mil com eles e que pagaria US$ 100 a cada vez que servisse a um homem", explica.

Depois de um tempo, Shandra conseguiu escapar e ajudou o FBI a localizar o bordel, onde outras pessoas eram escravizadas.

Na República Dominicana, 25% dos turistas estrangeiros participam do comércio sexual - uma em cada quatro vítimas é menor de idade, segundo o estudo da Walk Free.

O país e o Haiti têm o percentual mais alto de pessoas sob condições de trabalho escravo em relação à população - 1%. Ambos estão no oitavo lugar do Índice Global de Escravidão.

O relatório destaca que muitas crianças na Europa, Ásia, África, América Latina e Oriente Médio são forçadas por criminosos a pedir esmolas nas ruas.

Uma das vítimas disse aos investigadores: "Ainda que eu peça a esmola, eles não me pagam nada. Tenho que entregar para eles tudo o que ganham. Eles não me alimentam direito e não posso dormir bem. Não me pagam por um trabalho, isso é servidão".

Legenda da foto,

Muitas crianças são forçadas a mendigar

Outra conta: "Não podia dizer nada, tinha medo. Meu patrão ameaçou me castigar de forma severa se eu dissesse algo a alguém".

5) Em propriedades particulares

Grande parte da escravidão moderna não é visível para o público - ela acontece em casas, fazendas ou outros tipos de propriedades particulares.

Na semana passada, três pessoas da mesma família foram presas no Reino Unido por forçar um homem a trabalhar em troca de um pagamento irrisório.

Michael Hughes, de 46 anos, prestou serviços de construção para a família por mais de 20 anos. Ele disse que teve de viver em um galpão de 1 por 2 metros no jardim, sem aquecimento nem água, durante dois anos.

Crédito, Science Photo Library

Legenda da foto,

Casas e propriedades abrigam formas invisíveis de trabalho escravo

No mês passado, um britânico começou a cumprir uma pena de dois anos de prisão por manter sua própria mulher sob servidão doméstica - é o primeiro caso do tipo de se tem conhecimento no país.

Quais os impactos da escravidão moderna nas questões raciais contemporânea?

O analfabetismo, a ignorância da titularidade dos direitos e a falta de perspectiva de vida e de oportunidades de trabalho os alienam nesse mundo de escravidão, para onde frequentemente retornam, mesmo após a conquista da tão desejada liberdade física (MELLO, 2005, p.

Quais são os impactos da escravidão para a sociedade contemporânea?

A escravidão no Brasil foi cruel e desumana e suas consequências, mesmo passados mais de 130 anos da abolição, ainda são perceptíveis. A pobreza, violência e a discriminação que afetam os negros no Brasil são um reflexo direto de um país que normalizou o preconceito contra esse grupo e o deixou à margem da sociedade.

Quais as consequências da escravidão no Brasil contemporâneo?

Ao longo dos anos, essa falta de atenção para com essa parcela da população gerou violência, exclusão, desemprego, o uso de drogas, marginalização social, vários tipos de problemas, que serão discutidos ao longo do texto.

Quais os impactos da escravidão moderna nas questões raciais contemporâneas explique Brainly?

Resposta: A pobreza, voilencia, discriminação, desigualdade, negligencia são impactos da escravidão na sociedade brasileira.